sexta-feira, 16 de agosto de 2013

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Refletindo um pouco sobre a marcha das vadias



O termo Vadia é polêmico e algumas mulheres não se sentem contemplado por ele, enquanto conceito de protesto, isso porque historicamente o termo vadia tem sido naturalizado socialmente como um termo pejorativo dado as mulheres. Considerando diferentes contextos históricos e culturais é possível entender que há alguns limites para a sua desconstrução social.  No caso das mulheres Negras Americanas de descendência africana, ativistas na luta anti-violência, elas não se sentiram contempladas pela Marcha das Vadias, embora reconheçam e parabenizem a ousadia das mulheres brasileiras que reagiram aos comentários do policial de Toronto, que culpalizou as mulheres por serem estupradas, mas para elas, diante do seu contexto histórico em que foram percebidas e o que acontece com elas antes, durante e após o assédio sexual, a questão vai além de um protesto contra a crimilização do modo de se vestir. Na carta[1] que elas fizeram para as mulheres que organizaram a marcha no Brasil elas declaram: ... “Vai além das barreiras do modo como nos vestimos. Muito disso é ligado a nossa história em particular. Nos Estados Unidos onde a escravidão construiu a sexualidade da mulher Negra, sequestros de crianças negras para serem vendidas como escravas, estupros e enforcamentos, representações de gênero incorretas, e mais recentemente, a luta das mulheres Negras imigrantes, “vadia” tem diferentes associações para mulheres Negras”. Nós brasileiras temos que considerar o contexto histórico das Mulheres Negras Americanas, assim como os diferentes contextos históricos culturais de coletividades de mulheres no nosso próprio país. Assim como as mulheres Negras Americanas não se identificaram com a Marcha das vadias, algumas mulheres brasileiras também não se identificaram, mas no Brasil ainda precisa haver um debate mais abrangente entre mulheres de diferentes contextos culturais e históricos, para saber como se sentem diante do termo, até o momento nas justificativas das que não se identificam com o termo “Vadia” predomina uma noção de falsa moral social, no entanto, há que se considerar os diferentes contextos culturais. Há que se considerar também que as questões levadas as Marchas das Vadias realizada no Brasil até então, a questão não se restringe apenas aos discursos moralistas-machistas voltados para os modos da mulher se vestir, é muito mais ampla, as mulheres estão lutando por seus direitos como um todo.  No que diz respeito a Rondônia temos diferentes representações de mulheres em diferentes contextos culturais e históricos também: Indígenas, extrativistas, agricultoras e as várias categorias do espaço urbano. Levando em conta as diferenças, sabemos que historicamente as indígenas desde a colonização no Brasil foram arrancadas a força de seus povos para serem vendidas e para se tornarem esposas dos homens não indígenas. Na Amazônia há a especificidade histórica dos raptos de mulheres indígenas para serem esposas dos homens dos seringais, há ainda também o rótulo pejorativo da mulher da Amazônia como exotismo sexual, construído historicamente. Nesse contexto, temos que considerar que, embora haja violência contra as mulheres tanto no espaço rural como no espaço urbano, não podemos universalizar a maneira de como se constitui a mulher nas diferentes culturas.
Em Rondônia, a Marcha das Vadias tem como eixo de discussão toda violência causada às mulheres, as simbólicas e as físicas. Dando destaque as violências causadas no contexto da construção das hidrelétricas no rio Madeira. E nesse contexto, as mulheres indígenas, as extrativistas, agricultoras e as urbanas, são muito mais que afetadas, eu diria desmoronadas. Basta conhecer as realidades das comunidades indígenas, extrativistas e as diferentes comunidades rurais, para perceber esse desmoronamento das vidas que afetam diretamente as mulheres, muitas delas perderam suas filhas para o mercado de exploração sexual em torno das hidrelétricas, ainda hoje há mães se lamentado porque suas filhas estão abandonado suas casas para virem para a cidade e acabam por serem utilizadas no mercado do sexo.
Há casos de tráfico de mulheres facilitado pela Trans Oceânica – (Peru-Brasil) que foi apresentado no fórum da Pan Amazônia, realizado em novembro de 2012 em Cobija, há casos de tráficos de mulheres indígenas que chegou a sair nos jornais locais no inicio das obras de hidrelétricas, há casos camuflados de meninas bolivianas exploradas sexualmente nos estabelecimentos de comercialização do sexo, no entorno do canteiro de obras de jirau. E para quem acompanhou as notícias ou mesmo vivenciou o bum das hidrelétricas em Porto Velho, sabe do alto índice de exploração sexual infantil e o assédio às mulheres nos espaços públicos, como praças e ruas, o aumento de estupros no campo e na cidade. Além disso, há a exploração da mão de obra feminina que é inferiorizada nos canteiros de obras.
 A expropriação das mulheres que habitavam as margens do rio Madeira e foram jogadas às margens sociais, não pode deixar de ser mencionada. Nesse, sentido, em Rondônia resolvemos peitar o moralismo social e realizar a marcha das vadias, entendendo o termo como um contra discurso da naturalização da mulher pela sociedade, que estabelece como devemos nos comportar e rotulam de “vadias” as mulheres que rompem de alguma forma os padrões estabelecidos socialmente. A adoção do termo em si já é ir à contra mão desses discursos que criminalizam a mulher por ser violentada, colocando-as como causadoras da agressão sofrida.

*escrito por mim.