sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Viagem ao Rio Tapajós




Nos dias 20, 21 e 22 vivenciei uma das mais importantes experiências pessoais e políticas. Estive pela primeira vez no Ri Tapajós no Pará. Fui participar de um encontro de articulação política do Movimento Tapajós Vivo que se realizou na comunidade Pimental, onde está planejada a construção de uma Hidrelétrica. Os estudos e primeiras etapas burocráticas já formam iniciadas sem a consulta a comunidade. A comunidade tem recebido visitas de técnicos e pesquisadores, que vão querendo fazer cadastramento, querendo informações, mas não esclarecem de fato para quem estão trabalhando. Algumas ações da empresa já foram iniciadas, como a introdução de trabalhadores na empresa que estão morando em casas alugadas na comunidade, por esses dias houve um conflito entre a comunidade e a empresa. Uma parte da comunidade reagiu a realização de perfurações na comunidade, uma parte dos moradores está consciente das invasões que estão sofrendo, mas outra não.

A ação da empresa já está causando conflito e divisão na comunidade, pois os empreendedores chegam com o discurso de que a comunidade terá mais emprego e desenvolvimento e que eles serão indenizados. Colocam um contra os outros, ameaça os que já estão trabalhando como funcionário da empresa a não participarem das reuniões de mobilização política, senão, irão perder seus empregos e fazem promessas enganosas aos moradores. Uma parte da comunidade já percebeu a invasão e os desrespeitos aos seus direitos e estão mobilizados, outros ainda estão sem entender o que está acontecendo. Durante o encontro de articulação do movimento Tapajós Vivo realizado na comunidade, duas senhoras de idade perguntaram perplexas: “Mas vai alagar tudo aqui?”, essa indagação mostra que a comunidade precisa de informações.

O Movimento Tapajós Vivo já vem realizando algumas ações de mobilização política evolvendo as comunidades das margens do Tapajós, esse encontro em Piemntal é resultado de um encaminhamento feito na última reunião na comunidade Maloquinha, onde foi decidido que a próxima ação de articulação seria em Pimental por ser o lugar onde será construída a Hidrelétrica, com o objetivo de chamar a atenção da comunidade, informa-la, envolvê-las nas discussões e no processo de planejamento e realização das ações de defesa aos direitos dos povos que habitam às margens do Rio Tapajós.


Minha participação nesse encontro se deu como representante do Madeira, onde fui convidada a trocar experiências sobre o processo de lutas contra as Hidrelétricas no Rio Madeira, apontando as estratégias da empresa para o enfraquecimento da mobilização política, os acertos e os erros no decorrer do processo das lutas.


Iniciei minha fala dizendo que estar lá naquele momento era de extrema importância para minha história pessoal porque sou neta de seringueira do Estado do Amazonas, mas que meu bisavô, pai da minha avó materna, tinha saído de Santarém e ido para o Amazonas e que possivelmente era Munduruku ou de alguma outra etnia já integrada na sociedade Brasileira e que eu me sentia parente deles. Depois situei rapidamente o contexto histórico das políticas do Estado desde o período da colonização, de extermínio, pacificação e integração dos povos indígenas na sociedade nacional, com o objetivo de apagar a identidade indígena, e para isso, utilizou os próprios indígenas que disputavam território, colocando-os a serviço do Estado o qual se beneficiou na ocupação territorial Portuguesa na Amazônia. Remeti-me a história de lutas dos Munduruku e enfatizei a importância de unificação entre os Povos Indígenas da Amazônia.

Após as discussões da parte da manhã do dia 21 conversei com os Munduruku, os quais me receberam muito bem e me reconheceram como parente. Um dos caciques disse que quando me viu pensou: “Essa ai é índia. Porque um índio conhece o outro!” Eles nem precisaram ler os Pós- Modernos para saberem que identidade é uma escolha, eles acharam muito boa a ideia de eu querer me assumir como Munduruku, eles falaram:” Se você quiser ser Munduruku é só escolher qual clã vai querer fazer parte: Saw –Saúva da noite ou Doce – gavião real”. Eu disse que ia gostar de ser gavião. Nossa conversa foi importante e descontraída. Foi mesmo um grande encontro! O convite para ir até as aldeias dos Munduruku foi feita, o contato se deu agora é só retornar.

A participação dos Munduruku no encontro de articulação do Movimento Tapajós Vivo foi muito importante, eles estão bem situados sobre os desrespeitos aos seus direitos pela politica do governo federal e já estão dando os passos na sua organização política para enfrentar a guerra contra as Hidrelétricas, aliadas as demais populações das Margens do Rio Tapajós. A presença dos Caciques e lideranças Munduruku trouxe muita força e coragem para nossa articulação.


No começo de mais uma guerra no Rio Tapajós os envolvidos estão dispostos a mobilizar os demais e ir até o fim da guerra! Juntos comunitários e aliados a luta em defesa da Amazônia construímos uma mapa de planejamentos estratégicos das ações de resistência.



  
 Movimento Tapajós vivo para Sempre!

sábado, 18 de agosto de 2012

SEM FRONTEIRAS: VEM AI O VI FSPA EM COBIJA

SEM FRONTEIRAS: VEM AI O VI FSPA EM COBIJA: CAROS AMIGOS E AMIGAS... O IV FÓRUM SOCIAL PANAMAZÔNICO SERÁ REALIZADO DE 28 DE NOVEMBRO A 1 DE DEZEMBRO NA CIDADE DE COBIJA - BOLÍVIA, NO...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Entrevista na revista Contemporaneos

 Estava ainda fazendo o mestrado em Manaus e uma conhecida da época que estive no Neho em 2006 me escreveu me convidando a dar minha opinião numa enquete da revista sob sua responsabilidade, eu hesitei porque não me sinto uma especialista na questão. Mas, como era só uma opinião, aceitei o convite. Coloco o link da entrevista abaixo para quem quiser olhar e fazer suas críticas aqui no contaometodo.

Márcia Nunes Maciel
por Ana Maria Dietrich, Nízea
Coelho e Roselly Gonçalves

“As políticas desenvolvimentistas continuam e em nome do interesse nacional atravessam de forma irreversível muitas vidas na Amazônia”.

Nosso diálogo com Márcia Nunes Maciel se deu por email. Nós já nos conhecíamos anteriormente durante o tempo em que  morou em São Paulo e trabalhávamos em conjunto como pesquisadoras do Núcleo de Estudos de História Oral da USP. Naquele tempo, nas cantinas da faculdade, já havíamos escutado tantas histórias narradas por ela sobre esse território tão desconhecido pela maioria dos brasileiros e muitas vezes somente redesenhado e recomposto por mitos, clichês e chavões como onças, macacos, diamantes e os perigos da mata. Márcia chegava até mesmo a se enfurecer quando algumas dessas pérolas apareciam em nossas conversas. 

ver mais http://www.revistacontemporaneos.com.br/n5/pdf/ent2_marcia.pdf