quinta-feira, 30 de junho de 2011

As Coisas que eu aprendi na aldeia Juarí

         Entre os dias 20 a 23 de junho de 2010 estive na aldeia indígena Juarí e tive a oportunidade de conhecer um pouco de sua história e adquirir algumas lições com seus ensinamentos do dia-a-dia. A comunidade está em processo de retomada de seu território ocupado tradicionalmente. Eles viveram lá a muito tempo atrás, no tempo de seus antepassados. Eles contam que seus antepassados morreram quase todos de doenças que eles não conheciam como, por exemplo, o sarampo. Eles falas que morreram muita gente e que tem um lugar dentro do território que se tornou um grande cemitério. Depois eles ficaram reduzidos e não tinha mulheres para casar foi o que fez eles se reaproximarem do outro grupo que fazia parte da etnia deles, mas era outro clã e que haviam se separados a muito tempo. O outro clã tinha mulheres e foi aí que houve as relações de intercasamento. Aos poucos eles aumentaram populacionalmente e não desapareceram. Atualmente o Clã da aldeia Juarí decidiu voltar para a sua aldeia antiga. Aprendi muito com eles ouvindo suas histórias antigas e as das lutas atuais. Hoje dentro do território existe uma fazenda e para chegar até onde estão reconstruindo a aldeia é preciso passar por uma grande extensão de pastos entre várias gados. É triste ver a devastação, mas é emocionante ver a resistência e a coragem da comunidade em retomar seu território. 
        Nos dias que estive na aldeia interagi com as crianças, com os adultos e com os mais velhos. Fiquei impressionada como nós da academia conceituamos tudo e eles vivem esses conceitos sem ninguem ter ido lá discutir com eles porque faz parte de seus saberes milenares. Por exemplo, eles adoram contar histórias e também gostam de ouvir. Eu contei uma história de uma pessoa que criou uma onça e depois a soltou com medo do IBAMA e a onça comeu uma criança na estrada. Nossa! eles ficaram impressionados com a história e contaram para o cacique tradicional que depois contou outra história de um indígena que também criou uma onça e ela era muito inteligente e mostrava a caça para ele, mas depois quis comer gente e, por isso, teve que mandá-la embora... Foi uma História lonnnngaaaa... Foi ai que eu vi que eles tem a concepção que toda a narrativa é uma criação que é criada por quem narra. A primeira coisa que o cacique falou antes de iniciar sua história foi que sua mãe havia contado a ele a história que eu havia criado... Nossa eu fiquei pensando na hora... eu tive que ler tanta coisa para poder argumentar que a narrativa é uma criação que se dá no ato da narração e o cacique com sua sabedoria vem me falar assim com toda naturalidade de como de fato é para eles.  Outra coisa que eu descobri é que eles são extremamente pacientes e quando se pintam para a Guerra é porque é a última alternativa. A pintura de guerra para eles é sagrada e não é divulgada para todos, é por isso que na escola só há exposição das pinturas de festas femininas e masculinas feitas pelas crianças como atividade escolar.
        Tive dias agradáveis na aldeia, fui muito bem recebida. Na noite de ouvirmos a mulher mais velha cantar os cantos antigos e os cacique tradicional contar algumas histórias míticas ao redor de uma fogueira numa noite de luar, ganhei milho torrado e peixe amunquinhado. Nesse encontro cultural foi feito alguns encaminhamentos de necessidades da comunidade para a educação escolar e em seguida gravamos os cantos da D. Joana Karitiana, os do Antenor Karitiana e as histórias contadas pelo cacique tradicional.
         No dia de vim embora me despedi de todos e todas que me convidaram para voltar. Para eles as coisas que parecem ser simples na nossa cultura ocidental na deles é carregado de sentido, como um até logo que recebi de D. Joana, que mais que um até logo é mesmo uma expressão de estima. Para mim representou uma profunda consideração e desejo de volte sempre porque vc é bem vinda: Atara Yhaj (tiau irmã) com uma voz e um olhar cheio de carinho! Nossa esse gesto me faz sentir comprometida em voltar...

domingo, 26 de junho de 2011

Agradecimentos aos amigos e amigas


Meus dois grandes amores!
Encontro Internacional de História Oral - USP
Iniciação cietífica -2002-UNIR         

Centro de Hermenêutica - 2000

SBC -2001
 Amigos e amigas do Centro de Hernêtica - 2005.


                                      Eu, Lucas e Tanan em uma visita que me vizeram na semana de recesso em 2006, quando fiquei pela primeira vez seis meses longe deles.


Colóquio Sobre Roland Barthes - 2004



Encontros em Sampa - 2004     
       Idas e voltas São Paulo - Casa - 2006.

Vivência em São Paulo, estudos, experiências cultruais, amizades... de 2004 a 2007.

Mantendo o Vínculo com o Neho -2009.                                                                                                                 Pesquisa na Amazônia- /                                                                                                  Porto Velho- 2007



 
 Programa de Mestrado Em sociedade e cultura na Amazônia - 2008-2010.

Amigos do Sociedade e Cultura - Rio de Janeiro 2009 encontro dos Povos das Américas

O ritual para se tornar mestra...
2010...
 

grandes vôos - Praha -2010.


 Um pouco da minha jornada.
A todas as pessoas que acreditam em mim, sonharam, sonham,lutaram e lutam comigo... Valeu mesmo!
Desde os meus primeiros passos acadêmicos sempre pude contar com os amigos e amigas que às vezes acreditavam em mim mas que eu mesma.
Essa minha jornada começou faz tempo, foram muitas idas e vindas, muitas lutas e sonhos que uma coletividade faz parte. Por esse motivo, compartilho algumas imagens das vivências compartilhadas. 

Encontro Internacional de História Oral - 2011 - Praha

Interagindo e trocando ideias no encontro internacional de História Oral




Pronto para o que der e vier... O meu amor é o meu melhor amigo!





Saudade da Rose e da leo. Ponto de apoio quando resolvi enfrentar o desafio... 2005.
Aconchego dos amigos na fase de seleção para o doutorado - São Paulo 2011.
Minha mãe numa instalação artística sobre o mundo do seringal na casa de cultrua Ivan Marrocos... produção de artistas locais...

sábado, 25 de junho de 2011

Caminhos acadêmicos


Consolidação da última fase da seleção para o Doutorado em História Social - USP


           Em vários momentos da minha vivência acadêmica entro em conflito com a obrigação da escrita e desejo me voltar somente para o mundo da oralidade, mas com o os meus amigos e amigas indígenas aprendi que temos que dominar a caneta, pois ela é uma arma de resistência. Entre um conflito e outro vou me constituindo no mundo da academia. Eu sou uma pessoa que nasci no mundo que muito dele vem desaparecendo e hoje vejo a escrita como meio de recriação desse mundo. Eu não tive muitos recursos materiais para me tornar  o que me tornei. Não frequentei aulas de línguas, de artes, de dança, enfim, não tive uma educação burguesa que não deixa de ser importante para garantir espaços na sociedade, nem mesmo no ensino fundamental e médio tive uma base para saber escrever bem, mas sempre me identifiquei com conhecimentos da área de humanas e dei meu jeito nas exatas, nunca passei por média e no terceiro ano do magistério tive aquele empurrão do meu professor de física. Reprovei nessa matéria e fiz dependência no outro ano. Depois desse empurrão, no outro ano prestei o vestibular de história e passei, sem cursinho pré-vestibular estudando em casa com um filho de um aninho, tive instrução de redação em casa com o Iremar meu parceiro em tudo e o resto foi por conta de minha força de vontade para fazer cumprir a promessa feita a minha mãe e a minha avó que eu não ia parar de estudar.
                Eu tenho consciência das lacunas no campo do conhecimento formal, mas eu procuro utilizar as habilidades que aprendi na vida para enfrentar minhas dificuldades no mundo acadêmico, persisto, persisto, isso eu aprendi com as mulheres da minha família que sempre foram muito lutadoras. Também tive acesso alguns conhecimentos por outras vias, em termos de criticidade a vida me ensinou a ser assim, brigar pelo o que quero, me defender sempre, lutar sempre e em troca das escolinhas de instrução formal, pulei nágua com meus primos e primas nas viagens para a comunidade ribeirinha onde vive os nossos parentes, me atolei no igapó com meu tio e primos (as) para pegar peixe, andei de canoa com minhas tias e minha avó... Nossa aprendi tantas coisas importantes...
                Na academia tive a sorte de fazer a minha primeira disciplina com o professor Alberto Lins Caldas que ministrou a disciplina de introdução aos estudos históricos no primeiro período de História no ano de 1996. Alberto foi responsável pela minha transição de vida. Suas criticas ao capitalismo a desconstrução dos discursos sociais, foi que impulsionou a construir outros referenciais de vida e me encantar pelo mundo da academia e me desvencilhar de algumas amarras sociais, eu entendi logo o que era caos social, formatação social e fui aprendendo a lidar com tudos esses discursos.
                Ao mesmo tempo que eu ia me tornando um ser híbrido eu também me dava conta do meu lugar, de onde vim, do meu universo cultural. Fico até hoje admirada como sou um ser tradicional e moderno ao mesmo tempo, vejam só: Eu nasci em casa, quem me trouxe ao mundo foi uma parteira, a dona Lica, minha mãe de umbigo que tomo benção dela ainda hoje quando a encontro. Fui criada com vó e passei por alguns rituais de passagens lembro-me de um feito por ela, quando veio pela primeira vez minha menstruação, depois de muita vergonha de falar para ela minha prima me encorajou e eu contei, ela simplesmente ate á  latinha de costura dela, pegou o seu dedal (uma proteção para o dedo para não machucar com a agulha) foi até o filtro o encheu de água e depois deu para eu tomar, disse que era para eu não ter muitas cólicas, depois pegou uma colher esquentou no fogo e encostou nos meus seios para que eu não ficasse peituda (ah se ela soubesse que os peitões iam fazer sucesso mais tarde!). Tudo isso impressiona a mim mesma, além das minhas irmãs parte de pai não vi ainda ninguém dizer que tem mãe de umbigo, por exemplo. A experiência da acadêmica fez essa ponte com o mundo da escrita valorizando minha história e me levou para outros espaços, sem, no entanto, me fazer me desligar do meu lugar, hoje estou totalmente envolvida por ele, mas quando saí estava em busca de novas experiências, as quais me trouxeram para mim mesma.  
                No decorrer da minha graduação, embora quem tenha me estigando mais a superar meus limites por meio de muitas provocações foi Alberto, também dialoguei com outros professores que contribuíram na minha formação, as leituras de etnicidade e a iniciação científica com Edinaldo, as de Antropologia com Arneide, as de filosofia com o Valdecir as história e antropologia cultural com Lilian Moser, até mesmo com o Marcos Teixeira que só me dava 6,0 com exceção na de história das sexualidades que ele me deu 7,0, nem a de história da Amazônia que eu era a única da turma que tinha bibliografia em casa e que fiz o trabalho que ele passou, eu não tirei mais que 6,0.
              Das experiências de graduação não posso deletar o primeiro projeto de iniciação científica com a professora Francinete, foi importante na colaboração financeira e para um primeiro contato com a pesquisa, deixei por último nessa lista a professora Fabíola, não por ela não ter tido importância, mas por ela ter sido a professora que com sua paixão pela história oral me fez se apaixonar por esse campo de estudo onde me tornei pesquisadora.
                Eu tive grandes encontros nessa minha fase da graduação, devo ao Alberto meu encontro com a literatura, ao Ednaldo devo minha primeira experiência de pesquisa com povo indígena e a Fabíola o encontro com a História Oral, mas também não deixo de admirar Arneide com quem aprendi as noções que adquiri de antropologia e ao professor Valdecir com quem troquei muitas ideias. Ah! também quero registrar os diálogos travados na aula do professor Valdir que também foram importantes.
                Dessa experiência o que marcou mesmo foi minha vivência no centro de hermenêutica, nossa! Foi lá que tudo começou... e é de lá que tudo resultou... Foi lá que eu me dei conta o que eu era o que eu não queria ser e o que eu queria ser, foi lá que me desconstruí e me reconstruí e diante de tantas negações o que resultou foi a percepção do mundo que faço parte e dos vários outros mundos que passei a interagir. Foi lá que nasceu, por exemplo, a reflexão sobre o mundo do seringal do qual minha avó fez parte com as discussões acadêmicas que foi aos poucos amadurecendo a qual me levou ao NEHO, que me levou ao mestrado na UFAM, que me levou agora a USP e nesse passo em busca de novos espaços que se iniciou num processo a partir da minha formação no centro de Hermenêutica na UNIR/Porto Velho Rondônia acrescento na minha lista de professores e mestres o professor José Carlos Sebe Bom Meihy, lembrando também dos professores do programa de mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia, todos eles sem exceção, grandes professores, todos preocupados com a formação de seus alunos, mas eu registro aqui os nomes com quem interagi mais diretamente, minha orientadora Selda, minha professora Márcia Mello, o Noronha e o Renan.
                Mas quem vê essa narrativa parece que foi tudo fácil, mas não foi não. Minha pesquisa começou em 2001, quando me dei conta da riqueza do mundo que eu fazia parte e passei a olhar academicamente para ele, tendo a minha avó como o ponto zero de tudo isso, ou seja, o início de tudo... veio a tona a partir daí as lembranças de infância, as histórias do meu avô que brigou com a onça e todas as outras que cresci ouvindo repetidas vezes. Aos poucos fui adentrando no mundo da academia, primeiro na minha pesquisa com os Cassupá que tem sua importância ainda hoje, depois a pesquisa com as mulheres que vivenciaram espaços de seringais a qual é um rio de percepções que veio desembocar na discussão dos espaços afetivos, imaginários e relações interétnicas estabelecidas entre seringueiros e indígenas.
                No decorrer dessa jornada não foram só vitórias, nem só alegrias, tive que sair de casa, enfrentar o mundo, ficar longe dos filhos, longe dos amigos, da família, não foi fácil, mas também encontrei grandes pessoas no meu caminho, amigos e amigas. Depois que coloquei o pé no mundo, de 2006 a 2007 fiz três tentativas de seleção para o mestrado na USP e reprovei na prova de inglês nas três tentativas, mas em contrapartida construí um espaço no núcleo de estudos em História Oral da USP, depois disso, nesse interim, fui e voltei de casa para São Paulo no intervalo de longas temporadas, os meninos e o Iremar também foram me ver uma vez, nesse tempo senti o que é a dor da saudade...
                Em 2007 fiz a última tentativa e voltei para casa e fiquei me preparando para a próxima seleção, foi o tempo que levei a minha avó para minha casa e cada dia com ela foi um momento para pensar a minha pesquisa. No final do ano um colega me mostrou o edital do mestrado de Sociedade e Cultura e disse que era a cara do meu projeto, eu verifiquei e vi que era mesmo e num projeto de busca de um tempo perdido onde eu pudesse me reencontrar com lembranças de minha avó que havia falecido em 14 de Agosto de 2007, eu fui para Manaus, a cidade que minha avó desejou conhecer na juventude e não conheceu, mas construiu muitas imagens do lugar. Fiz a seleção para o mestrado no final de 2007, no começo de 2008 estava engressando no programa de Sociedade e Cultura. Embora os dois anos que fiquei lá tenha vivenciado momentos difíceis de solidão, foi uma experiência importantíssima na minha jornada, tive respaldo e concretizei minha pesquisa, além de continuar meu vinculo com o NEHO.
                Em 13 de Abril de 2010, defendi minha dissertação e tive o respaldo da banca formada pelo professor Sebe que legitimou minhas transcriações, a Amélia da geografia que deu respaldo para minha leitura sobre o espaço de afetividades e a Selda que ficou comigo até o final e no fim de tudo entendeu o trabalho de transcriação em História Oral.
                Na volta para a casa em 2010 o desafio de restituir a vida em casa com os filhos cumprir com as metas e construir novos projetos de vida. Ô fase difícil essa do pós-mestrado, minha nossa! É uma indecisão, é uma angústia, até a gente tomar a decisão do que fazer é um desespero só... Eu mesma fiz três concursos para professora na UNIR, o primeiro na loucura de ter que preparar a defesa e com computador pifado e longe de casa, o que não me deu condições de produzir uma proposta de trabalho extremamente rigorosa, mas também não foi nada que fosse desleixada, apresentei minhas propostas, pensando a educação escolar indígena como construção junto com os professores indígenas me comprometendo com um projeto de formação de intelectuais indígenas, mas nesse processo os três que tinham experiências na área não passaram... Enfim... No segundo eu realmente fiz uma prova ruim, acho que até troquei o nome do Marques de Pombal pelo do Marques de Sade, brincadeira a aparte o assunto da prova era de domínio do Iremar e a nota dele foi menor do que a minha... Vai entender? No terceiro fiz por pressão social, não li toda a bibliografia e fui fazer a prova para ver meu desempenho, não esperava passar com a prova que fiz, mas também não esperava tirar uma nota tão baixa, comecei a acreditar que estava entrando num processo de emburrecimento, foi aí que depois de mais alguns meses de indecisão e falta de motivação, resolvi fazer a seleção de doutorado, aí eu pensei: vamos ver no que vai dar, se deu, deu, se não deu, não deu. E não é que deu????? !!! Pois é, passei no doutorado de História Social com a orientação do Professor Sebe...  Eu neta de seringueira, que nasceu na Beira do Madeira, indígena assumida no último IBGE em busca da história indígena que foi apagada na minha família que por parte de mãe tem meu bisavô que veio de Santarém, região do território dos Munduruku e foi criado desde pequeno por uma portuguesa, pratica comum em que as crianças indígenas eram dadas para não indígenas, ou na maioria das vezes tomadas... E por parte de Pai minha avó que vem da região do Madeira território tradicional e perambulação dos Mura...
            Eu só sei que foi assim...


sábado, 4 de junho de 2011

Escola Kyowã

    
                    Representação da Aldeia Bom Samaritano - Alunos da Escola Kyowã                               
                           Representação da Aldeia Byyjjyty Osop Aky - Alunos da Escola Kyowã


No dia 23 eu, uma colega e um colega que atuam na Educação Escolar Indígena em Porto Velho fomos para a aldeia Central do Povo Karitiana, conversar, trocar ideias e planejar junto com os professores da escola Kyowã algumas atividades pedagógicas. Dentre essas atividades foi desenvolvida uma oficina de produção de cartografias: mentais, imaginárias, temáticas, chamadas também de cartografia da memória, na aula de História. A proposta dada aos alunos foi de que eles desenhassem o espaço em que eles vivem e tudo o que eles achassem que faz parte do território deles. Dessa oficina resultou diferentes representações e textos sobre os desenhos. Com a autorização do professor da disciplina de História e do diretor indígena da escola e da turma publico neste espaço dois textos e duas representações que se destacaram por se tratar de uma manifestação crítica do processo de retomada de territórios antigos do Povo Karitiana e apoio aos que estão na luta dessas retomadas. A ideia é escaniar todos os desenhos e digitar todos os textos para organizar um livrinho para ser utilizado como material didático na própria escola.
Texto 1
Aldeia Bom Samaritano
A aldeia Bom Samaritano foi construída pelo senhor cacique Antônio Garcia Karitiana. Ele começou a fazer uma roça para plantar e fazer outras coisas nela. Junto com suas duas esposas Isabel e Maria Rosa, depois que a primeira esposa faleceu em 1993 ele passou tempo sem ir à roça, por que ele estava muito abalado.  Depois ele seguiu em frente e ficou com sua segunda esposa. Quando se recuperou ele voltou a fazer roça que hoje se tornou a aldeia Bom Samaritano.
O senhor Antônio Garcia Karitiana só fez abrir a aldeia e depois faleceu em 2008 e seu filho Orlando Karitiana assumiu o lugar do seu falecido pai com o apoio da comunidade indígena Karitiana.  Ele foi ao Ministério Público para reivindicar a criação da aldeia Bom Samaritano.  Quando o documento foi assinado o Orlando construiu a aldeia e hoje tem cinco casas, plantações de milho, mandioca, laranja e criações de galinha.
Hoje o Orlando Karitiana vive na aldeia com sua família, seu genro, sua mãe, irmãs e outros. Eles estão muito felizes com a construção da aldeia onde estão vivendo.

Texto 2

Relato Sobre a Aldeia BYYJYTY Osop Aky
Byyjty – Chefe grande Osop Cabelo Aky transformou
Tradução segundo Nelson Karitiana: Karitiana se transformou pelo cabelo do neto de Deus.
Observação:
Essa seria a explicação da origem dos Karitiana que surgiram do cabelo do neto de Deus que é a nomeação a aldeia antiga que nos faz  relacionar a busca do Sizino pela retomada da aldeia antiga. O texto abaixo é uma manifestação de apoio ao Sizino Karitiana caçique e grande guardião dos saberes tradicionais do Povo.
BYYJYTY Osop Aky
Está aldeia representa muita coisa para nós indígenas da etnia Karitiana. Quando o sizino que, era daqui da aldeia central, decidiu morar na aldeia BYYJYTY Osop Aky ele não pensou só nele, pensou também no pai, na mãe, na irmã, nos parentes dele que moraram nessa aldeia. Então ele pensou: - Eu vou morar onde moravam meus pais. Essa terra nos pertence. Eu vou à luta para que as autoridades a demarquem.
Assim ele fez a oca mesmo que o fazendeiro não queira que ele fique lá. Aconteceram muitas coisas quando ele começou a morar na aldeia BYYJYTY Osop Aky, queimaram a oca que ele construiu para morar com os filhos, mesmo assim ele continuou e construiu outra oca.
Ele não quer perder essa aldeia por nada nesse mundo por que lá está o cemitério dos antigos, têm o tumulo do pai, da mãe, do irmão, da irmã, do primo do avô da avó da prima, entre outros familiares, por isso, ele não quer perder essa terra ele vai até onde for preciso.
Os genros decidiram morar junto com ele, assim, eles construíram essa aldeia BYYJYTY Osop Aky onde hoje eles moram e vivem.
XXXXXXXXXXXX
O Sizino e sua família estão sofrendo pressão do fazendeiro para desistir da retomada de seu território. O processo de estudo antropológico para o laudo está em andamento, enquanto isso o fazendeiro ameça o Sizino e retira madeira da área.