sábado, 26 de fevereiro de 2011

Apagaram Tudo...


Passei a semana inteira com o trecho dessa música na minha cabeça: " Apagaram tudo... Pintaram tudo de cinza"... É assim que vejo a maneira de como as coisas estão acontecendo, não só aqui no lugar onde moro, mas é dele que vou falar. Gentileza na música é uma pessoa , um senhor que escrevia palavras nos muros da cidade do Rio de Janeiro, ainda vemos umas poucas palavras que não foram cobertas de tinta. Lembro que a primeira vez que ouvi essa música achei que Marisa Monte estava se referindo mesmo ao gesto gentileza e achei que cabia muito bem, pois merecemos mesmo ouvir palavras de gentileza, pessoa e também do gesto. O apagar tudo, só me remete as medidas governamentais, as decisões impostas, aos jogos de silenciamento. Apagam tudo e nós que passamos apressados pelas ruas da cidade nem nos damos conta. De um lado uma luz no fim túnel, possibilidades de mudar sem impor, do outro os jogos de disputas e manipulação, é uma dança das cadeiras, todo mundo querendo um lugarzinho. Tudo é muito incômodo... Por que tantos desrespeitos aos direitos?, Por que tanta devastação?, Por que tanta coisa errada? Por que a passagem de ônibus aumenta contra a vontade de quem usa o transporte público, por que as hidrelétricas na Amazônia? Com as hidrelétricas restou a devastação, arrancaram as árvores, retiraram as pessoas de seus lugares, os animais que não conseguiram se salvar por conta própria ficaram em meio a destruição de seus habitates mortos em putrifação, barrancos aplainados, povos indígenas ameaçados e enganados, alguns iludidos, outros isolados a merce do descaso de todos, prestes a desaparecerem. O mundo não se importa? Por que quem grita, quem denuncia, quem avalia, quem discute, quem propõe novas posturas? Quem simplesmente é contra o jogo de manipulação, acaba não sendo ouvido? Para todos os lados que olho vejo palavras apagadas, muros pintados, sinto cheiro de tinta fresca... Um ar de novo, de bonito camuflando o que não querem que seja visto. Mudaram o rumo do rio e da vida de muita gente, mas as injustiças são apagadas com as propagandas de que todos estão mais felizes... E o pior que sempre tem os que conseguem convencer os principais afetados com os discursos enganosos... Mas nem todos se deixam enganar...  Mas o que resta para esses?






sábado, 19 de fevereiro de 2011

O desaparecimento dos lugares


  
Houve um tempo aqui em Porto Velho que existiam dois lugares únicos, onde pessoas compartilhavam o gosto pela literatura e pela boa música. O lugar de certos leitores e o lugar de certos boêmios, eu diria que éramos uma espécie de comunidade de discursos e pessoas que tinham em comum alguns gostos, dentre eles havia os mais experientes e aqueles que estavam iniciando-se nesse mundo.  Nós que líamos ou ainda lemos algumas literaturas existencialistas, fenomenológicas ou subjetivas do ser, costumamos inventar sentidos para as coisas. Foi assim que diferentes grupos que tinham alguns sentidos em comum constituíram aos poucos um lugar de encontro e identificações. Um que dizia respeito as nossos desejos do ser diurno e outro ao nosso ser noturno. O espaço diurno era a livraria da Rose, onde havia uma livreira chamada Rose, apaixonada por livros e que tudo entendia sobre eles, sua livraria não era um lugar de comprar livros, não, não era apenas isso! Era um lugar de encontrar-se com eles, e às vezes, eu tinha a impressão que eles me achavam, foi lá que fui aos poucos encontrando as peças que montavam o quebra cabeça dos conceitos  teóricos ensinados na universidade, foi lá que me deparei com os livros dos meus sonhos, que fiz  descobertas incríveis, além, de poder compartilhar leituras com outras pessoas. Era mesmo um lugar de experiência da leitura. O espaço noturno era o Canteiros Bar, para os mais próximos o bar do Rui, que hoje fiquei sabendo por um dos seres que habitava e encantava o lugar com a performance da voz e do corpo, que as portas estão fechadas. Então fiquei pensando nas modificações que foram acontecendo lentamente até as portas se fecharem, e também fiquei imaginado que provávelmente o motivo não tenha sido comercial, pois logo agora a cidade está cheia de gente querendo um lugar para a noite, e então, me lembrei que a primeira vez que fui lá me contaram uma história sobre o Rui, que ele havia aberto aquele espaço para unir duas coisas que ele gosta, a boa música e os amigos. Aos poucos fui percebendo que as pessoas iam lá sabendo o estilo de música que iam ouvir e com quem queriam encontrar-se. Para nós aquele lugar era diferente dos outros bares da cidade, lá existiam os melhores interpretes, a melhor música, os amigos. Isso tudo fazia nos sentirmos parte do lugar, mas aos poucos foram chegando pessoas estranhas que não tinham a ver com a representação que havíamos construído, muitos se sentiram invadidos, cada vez mais o lugar foi abrindo-se para os estranhos,(eles eram estranhos não só por serem desconhecidos, mas por não dizerem respeito ao lugar, houve situações em que as conversas altas nos atrapalhava a curtir a música) mas, ainda assim, em nossas idas e vindas de Porto Velho o Canteiros Bar era um lugar de retorno, mas em Janeiro nos deparamos com ele fechado, achamos estranho e hoje eu soube que ele não abrirá mais. E agora onde vou encontrar o pessoal?  A gente costumava brincar dizendo que o bar do Rui era encantado, porque toda vez para encontrá-lo primeiro a gente se perdia e dessa vez quando conseguimos chegar lá sem nos perdermos nós havíamos perdido o lugar. Assim como a livraria da Rose não era só mais uma livraria o bar do Rui também não era só mais um bar. Estamos órfãos de vez!? Esse sintoma está presente quando saímos pela cidade e encontramos nossos lugares onde construímos afetividades, boas memórias, cheio de estranhos ao espaço, e quando no meio da multidão enchergamos um rosto conhecido nos sentimos encontrados e logo vêm as perguntas de ambas as partes: Cadê o pessoal? Mas isso não quer dizer que não estejamos abertos para novas experiências e novas amizades e essas oportunidades estão se dando. Novos lugares com novos agregados estão se construindo, (têm chegado uma galera bacana que corresponde com nossas visões de mundo e que chegaram para somar). Não sou contra que outras pessoas venham em busca de novas perspectivas de vida, sou contra a maneira como sempre foi feito, como estivessem ocupando um espaço vazio, (política de ocupação e desenvolvimento) eu quero meu rio de volta, agora toda vez que vou ao mirante onde olhava para o horizonte, vejo tudo modificado, o rio desviado com as construções das barragens que modificou a paisagem noturna por causa da iluminação permanente no rio, o barulho no lugar do silêncio da madrugada na beira do rio, porque as máquinas e os trabalhadores não param, o desmatamento extremo, a morte dos animais e a expulsão dos ribeirinhos de seus lugares. Não é xenofobismo é um sentimento de perda dos lugares de experiências afetuosas e de histórias de vidas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O que dizem que sou

Muito do que dizem que somos é uma imagem alimentada por nós mesmos... Mas, às vezes olhamos para essa imagem que constorem de nós e não nos enxergamos. Eu por exemplo, dizem que sou lutadora, corajosa, inteligente, doida, pavil curto, que fala o que bem entende. Bem tudo isso,claro, é olhar dos amigos e amigas. Eu sou mesmo uma grande invenção imaginária das pessoas que me querem bem. E é com elas que consigo fazer coisas inteligentes, com elas que rio, que choro, que grito, esbravejo, que digo o que vem na telha. E se luto e tenho alguma coragem é porque tenho o apoio delas. Eu amo todas a pessoas que fazem parte do meu convivio afetuoso, embora, às vezes, algumas delas só ache legal ter amigo como eu em filmes e biografias. KKKKK Estou pensando tudo isso porque vejo o quanto tenho de limites, se eu fosse me deixar enquadrar nas categorias clínicas eu não sei o que ia sobrar de mim... Por isso, fujo o tempo todo dessas categorizações, mas chega uma hora que esses discursos clínicos se fazem presente no corpo e aí o jeito é encarar, porém, sem se deixar domesticar tanto... se não, o que restará do prazer? E o que restará de si? É melhor não ser vista pela ótica clínica e enfrentar os limites...Diante de uma série de diagnósticos eu até que venho me saindo bem! kkkkkkkkkkkkkk!!!!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Cabana dos meus sonhos






 Eu sempre imaginei uma cabana simples no meio da floresta onde eu pudesse estar com pessoas amigas,  bons livros, vinhos, música e desprendida de morais puritanas. Esse lugar existe! Passei dois dias vivenciando esse espaço que achei que existisse só no meu mundo onírico, ele está em Presidente Figueiredo, numa chácara biológica de dois moços que deixaram a vida de Porto Alegre e foram viver de forma livre e auto-sustentável, sem deixar para trás  seus livros de literatura, instrumentos musicais e belas canções que ouvimos ao som da vitrola regados a vinho. Embora, haja uma poética do espaço essa cabana não se remete a uma memória da infância, mas a um espaço que faz parte dos desejos e que se tornará uma lembrança saborosa. Essa experiência foi um presente de despedida da minha amiga Josibel  antes do meu retono à Porto Velho e que hoje lembrando de nossos bons momentos, resolvi fazer essa postagem.